sábado, 11 de julho de 2015

Cantemos Amália para que nos continue a faltar

Reunindo um elenco de luxo do fado dos nossos dias – Ana Moura, António Zambujo, Carminho, Camané, Gisela João e Ricardo Ribeiro –, o realizador Ruben Alves montou um disco de homenagem a Amália que testa a individualidade dos intérpretes. E a superação desse desafio, na verdade, era o maior tributo

Poucos poemas haverá na escrita de Amália Rodrigues que nos roubem tanto o ar quanto aquele a que chamou Faz-me Pena.
Nele, Amália não fazia por esconder a sua atracção pelo abismo, pela melancolia, por um lado trágico da existência. Sem falsas pistas, cantava-nos que “se o desgosto é pequenino” ela própria lhe aumentava “o tamanho”. E anunciando que o fim já se instalara nos seus aposentos, fazia-lhe pena e chorava já a hipótese (naturalmente impossível) de que nessa hora derradeira ninguém chorasse a sua partida. Dava por si assaltada pela sugestão do vazio mais absoluto, da ausência de aplausos, de uma falta que temia não fosse notada. A 6 de Outubro de 1999, vários anos passados sobre estes versos, não seriam poucas as lágrimas derramadas pela sua morte.


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