segunda-feira, 7 de setembro de 2015

João Salaviza: "Se calhar filmei pela última vez esse desejo de cruzar adolescência e Lisboa"

João Salaviza tem 31 anos, mas filma como os antigos: Montanha, que se estreia no Festival de Veneza, é um filme de um sereno esplendor. O bairro dos Olivais, em Lisboa, como cenário da cavalgada de uma personagem em busca do sopro épico que nunca (lhe) acontece. Numa tarde de 2012 pouco tempo depois de João Salaviza ter ganhado o Urso de Ouro de Berlim com a curta-metragem Rafa, o café Vá-Vá, em Lisboa, mitologia fundadora do Cinema Novo português – Os Verdes Anos, de Paulo Rocha, aconteceu ali –, foi o espaço onde o cineasta explicitou o que também tinha sido fundador no seu cinema: a nostalgia, a nostalgia por uma vida de bairro que já não viveu.

João, contou nessa conversa, habitou entre os 10 e os 16 anos aquele território a que se chama as Avenidas Novas, espaço carregado de memórias (ainda por cima o pai, Edgar Feldman, assistiu Paulo Rocha), mas na altura da sua solitária adolescência era já um cenário esvaziado de vida. Filho da classe média, deu por si a desejar viver – isto é, a ocupar intensamente a rua com o futebol, com a música... – como "os miúdos das periferias" faziam, atacando a cidade de skate como os índios investiam sobre Monument Valley.

Sem comentários: