quinta-feira, 31 de maio de 2012

João Pedro Rodrigues e os zombies no bairro de Alvalade

Uma curta do realizador português encerra a Semana da Crítica: "Manhã de Santo António". A juventude olhada com distância e cepticismo, permitindo que as imagens renovem a sua violência e narcisismo
Às primeiras horas da manhã de um dia depois das celebrações do Santo António, em Lisboa, João Pedro Rodrigues tirou uma fotografia com o seu telemóvel, no fim de uma viagem entre corpos exaustos que mecanicamente despertavam quando o metro entrava na estação de destino: três rapazes dormiam, dois sentados um frente ao outro e o terceiro estendido no chão, ocupando o corredor de passagem. A foto parece ter sido roubada a outro mundo.
"Senti-me completamente à parte, longe daquelas pessoas, porque já não tenho 20 anos. Como se fosse um observador das pessoas de agora, um observador de fora."
Esta é a foto que esteve na origem de Manhã de Santo António (curta de encerramento da Semana da Crítica), onde o bairro de Alvalade é território que vai ser ocupado por um grupo de, dir-se-ia, zombies - com 40 jovens, que chegaram com as suas próprias roupas, Rodrigues ensaiou, antes de filmar, movimentos que tanto devem a Tati, Buster Keaton e Pina Bausch como a Metropolis, de Fritz Lang e, sobretudo, que nascem inspirados por um bairro modernista de Lisboa que está disponível com as suas geometrias para ser tomado por "fantasmas, pessoas sós" que são habitualmente as personagens dos seus filmes, como diz o realizador - tudo isso sob o olhar reprovador da estátua de Santo António, olhar que o cineasta consente que, inicialmente, possa ser confundido com o seu.

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