terça-feira, 13 de setembro de 2011

A casa [de lava e de livros] de José Saramago

"Procurar o outro lado de tudo" - foi o que fui fazer à Casa, Calle los Topes, Tias, Lanzarote. Entrei na casa de Saramago como se entrasse num universo que, de algum modo, também me pertencia. Bebi a atmosfera familiar que se estampa em cada canto, como se José [permita-me chamá-lo assim, neste contexto] fosse voltar a cada instante, mudar uma peça de sítio, pegar num livro do escritório e se sentar no cadeirão da sala a ler poesia, depois do jantar e a ouvir o vento a gemer na vidraça.
Pisei o chão negro de basalto que serve de tapete de entrada e senti-me personagem de livro. Olhei para as paredes e reconheci a força de Blimunda, o caminho lento do Elefante. Senti o poder das palavras escritas em cada objecto, na família africana que ficou depois dele ter partido, nas fotografias espalhadas pela sala, na vida que ficou parada numa cama branca guardada numa ilha negra, beijada, em cada manhã, pelos ventos alísios que lhe adoçam o ar.

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