quinta-feira, 2 de abril de 2015

"Não olho para o que fiz. Olho para o que vou fazer"


 

"A actividade do cinema  é uma actividade artística,  a última das artes, a Sétima Arte. E José Régio, por exemplo, dizia que o cinema era uma síntese de todas as artes. (...) Mas o cinema, como todas as artes, está ligado à vida.  O que se exprime, ou o que as artes exprimem, de um modo ou outro, numa forma abstracta ou concreta, é a vida"
Mais do que uma entrevista com o realizador de cinema consagrado internacionalmente, com 80 anos de carreira, esta é uma entrevista com um homem que, tendo nascido no tempo da monarquia, chegou ao centenário da República com uma frescura de espírito notável, o que lhe permite manusear a cultura e o mundo adquiridos com uma inteligência ímpar e uma educação a condizer. Aos 102 anos, com muitos projectos ainda por realizar, Manoel de Oliveira afirma que não tem "medo da morte, só do sofrimento", e lança um repto ao Ministério da Cultura: apostar na internacionalização do cinema português, que tem espaço no mercado global, e, garante, pode trazer receitas importantes para o País.
Como se sente, de saúde e de projectos?
A saúde na inteligência está boa. A saúde no corpo é que vai um pouco pior... A memória falha-me, sobretudo os nomes. Mas nas coisas relativas a cinema está tudo em ordem, que é o que me interessa para poder continuar a trabalhar, porque o trabalho é fundamental e a natureza já deu ao homem razões para trabalhar. E as razões são uma só: a fome. A fome é que obriga o homem a trabalhar. Se não fosse a fome, o homem não trabalhava.

Diário de Notícias.

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