domingo, 3 de junho de 2012

Que espectadores para os filmes portugueses? Artigo de João Lopes

Poucos espectadores para os filmes portugueses?

(...) O que se joga é de outra natureza, já que se liga com os poderes mais fortes da nossa vida cultural. A pergunta (descartada pela maioria da classe política) é esta: será possível que um público formatado, há mais de três décadas, pela mediocridade das telenovelas se interesse pelos filmes portugueses? A resposta tem tanto de cruel como de transparente: não é possível.
Nas últimas semanas, chegaram às salas dois filmes portugueses aos quais se colaram, automaticamente, os rótulos de "acessíveis" e "comerciais": Assim Assim, de Sérgio Graciano, e A Teia de Gelo, de Nicolau Breyner. O primeiro seria um retrato "despretensioso" de personagens "como nós"; o segundo recuperaria referências "tradicionais" dos géneros policial e de terror.
Não vou esconder que, em ambos os casos, os resultados me parecem profundamente desinteressantes, marcados que estão pela formatação (psicológica ou anedótica) imposta pelas telenovelas. Em todo o caso, mesmo que estivéssemos perante radiosas obras-primas, a impostura mantinha-se. Impostura dos cineastas? Não, impostura desse discurso que "ninguém" diz, mas que, nem que seja por demissão jornalística, tantas vezes aceitamos como um retrato adequado do cinema português: de um lado estariam os filmes "difíceis" que ninguém vai ver; do outro os produtos "populares" que mobilizam delirantes multidões de espectadores...

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