sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

D. João V, Baltazar e Blimunda vão continuar a andar pelo convento porque Saramago não vai deixar Mafra

A eventual saída do romance Memorial do Convento dos currículos do 12.º agitou a vila, mas no palácio a obra do Nobel português promete continuar a encher os corredores de estudantes. Pelo menos para já.

Um rei caprichoso, um padre visionário que acaba por morrer louco e uma construção megalómana que faz do povo um herói. Pelo meio a ameaça da crise dinástica, a promessa, os frades, os acidentes de percurso, o corredor de 232 metros que separa D. João V da rainha que ele não ama, o casal que se apaixona ao primeiro olhar durante um auto-de-fé, a máquina de voar de Bartolomeu de Gusmão, as pedras que viajam 15 quilómetros para chegar ao estaleiro onde trabalham 45 mil operários. Tudo isto é Mafra, segundo José Saramago e o seu Memorial do Convento, o romance que é leitura obrigatória desde 2002 mas que o novo programa e metas curriculares de Português do ensino secundário podem vir a deixar de fora.

O processo de consulta pública destes novos objectivos, que prevêem que o Memorial venha a ser trocado por um de dois outros romances do Nobel da Literatura português, que morreu em Junho de 2010 (O Ano da Morte de Ricardo Reis e História do Cerco de Lisboa), já terminou, mas só depois do Natal, quando estiverem analisados todos os contributos, se saberá que livro terão os alunos de ler (ver texto nesta edição). E até que a decisão produza efeitos, diz Mário Pereira, director do Palácio Nacional de Mafra há quase seis anos, muitos estudantes andarão pelos corredores daquela que é a grande obra de regime de D. João V.

Sem comentários: