segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Tertúlia Musical recorda Carmen Miranda

Numa iniciativa do Instituto Português de Cultura, decorreu na passada sexta-feira, 30de Janeiro, a I Tertúlia Musical 2009, durante a qual foi recordada a figura da artista Carmen Miranda, no bar A Nau, do Centro Português.
Na Tertúlia, recebendo aplausos frequentes de um público que atestou o local, participaram alguns dos valores musicais da Comunidade. José Carlos Rebelo interpretou temas portugueses e brasileiros coreados pela assistência. O Trio Acordionistas, integrado por António Granja, Avelino Tavares e Avelino Seténio, mostrou o seu virtuosismo em várias composições populares portuguesas, e o Grupo Tradições, dirigido por Vaz Fernandes, avançou pela noite fora com cantigas populares e expressões do folclore português. Entre actuação e actuação foram apresentados videoclips de algumas das canções mais emblemáticas de Carmen Miranda.
Como se recordará, Maria do Carmo Miranda da Cunha, que seria durante um quarto de século – entre 1930 e 1955 – talvez a representante mais universal da música brasileira, nasceu em Portugal, em Marco de Canaveses, a 9 de Fevereiro de 1909, e emigrou para terras de Veracruz ainda muito criança. Curiosamente, se o fado – tal como o tango – nasceu em berço pobre e teve de lutar para entrar nos salões mais exclusivos da sociedade então, igual sucedeu com o samba, e quem o fez subir na escala social foi precisamente Carmen Miranda.
Quando partiu para os Estados Unidos em 1939, já era famosa na sua terra de adopção. Vários eram os discos editados e os filmes onde aparecia como primeira figura. Foi, contudo, a partir de essa data que a sua imagem ganhou dimensão universal. Foi, pelo menos para alguns, a Madona da sua época. O único inglês que dominava quando chegou aos Estados Unidos foi o que aprendeu durante a viagem de barco, que evidentemente não passava de duas ou três palavras mal alinhavadas e pior pronunciadas. Isso marcou-lhe a carreira artística e apesar de que posteriormente aprenderia a falar correctamente o inglês, as exigências de Hollywood sempre a obrigaram a maltratar a língua de Shakespeare para que fosse mais “auténtica” no seu papel de latino-americana.
Não há dúvida de que a sua alegria conquistou os Estados Unidos, onde, em plena II Guerra Mundial, chegou a ser um instrumento político ao serviço do governo desse país, numa tentativa de aproximar a América Latina da Europa. Além de fama, ganhou muito dinheiro e convivia e fazia negócios com os “grandes” da época – John Wayne, Clark Gable, Gary Grant, Bob Hope, Ava Gardner e Humphrey Bogart, entre outros. Esse foi o lado bom da aventura na “fábrica de sonhos”. O lado mau foi que ela, que nunca tinha sido bebedora nem fumadora, começou, por força do ritmo de vida que lhe era imposto, a saltar das anfetaminas para os barbitúricos. Uns para a manter acordada, outros para que pudesse dormir. Caiu na depressão e foi tratada com choques eléctricos, que a deixavam aturdida e lhe arruinavam a saúde precocemente.
O coração não aguentou muito e a 5 de Agosto de 1995 teve um desmaio durante o show de Jimmy Durante. Não e nada, terá dito. Era. No dia seguinte morreu.
Durante o seu funeral no Rio de Janeiro viu-se que não tinha perdido o seu público brasileiro: meio milhão de pessoas acompanharam-na na marcha final. Hoje tem um museu nessa cidade e outro na sua terra natal, a qual nunca voltou. Ela que nunca teve grandes homenagens, recebeu tributo musical de Ney Matogrosso e de Caetano Veloso. Actualmente, a Cinemateca Portuguesa está a exibir alguns dos seus filmes – valem pelo que têm de históricos – para a recordar e apresentar às novas gerações.
Em síntese, resume assim a vida trágica de quem parecia ser a dona da alegria.

Sem comentários: