segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Os Maias, efeitos culturais



Até há uma espé­cie de com­père de revista, João da Ega/Pedro Inês, de cuja audá­cia o filme se aproveita (mais do que) o necessário para con­for­tar as expec­ta­ti­vas do espectador.

João Botelho instala-se no ter­ritório do “cin­ema de prestí­gio”: os telões pin­ta­dos em back­ground são pequenos acon­tec­i­men­tos em si, “efeitos culturais”.
Os Maias está longe da ten­são de Con­versa Acabada (1980), Um Adeus Por­tuguês (1985) ou Tem­pos Difí­ceis (1987), por exem­plo, que eram filmes que tam­bém falavam de “nós, hoje” mas com uma rugosi­dade altiva (pos­tura nada con­tra­ditória com a tris­teza que cir­culava neles) que não tin­ham con­tem­plações. Já nesta adap­tação da obra de Eça, o espec­ta­dor nunca vê o seu con­forto ameaçado – mesmo que suposta­mente esteja a olhar-se ao espelho, nunca vai lá encon­trar nada de lúgubre.
Ir aos Maias torna-se, por estes dias, um rit­ual auto­cel­e­bratório. A reivin­di­cação do real­izador sobre a capaci­dade de o filme falar sobre hoje transformou-se em caução cul­tural, o que amansa qual­quer con­fronto mor­daz den­tro da sala. Num con­junto de inter­pre­tações mid­dle of the road, até há uma espé­cie de com­père de revista, João da Ega/Pedro Inês, de cuja audá­cia o filme se aproveita (mais do que) o necessário para con­for­tar as expec­ta­ti­vas do espectador.



Sem comentários: