sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Oliveira, o curto


Tantas graçolas, ao longo de anos, sobre a duração (supostamente “excessiva”) dos filmes de Oliveira, e afinal há um Oliveira que é, de facto, “curto”: é o Oliveira dos primórdios, que nos primeiros trinta anos de carreira só pôde realizar uma longa (Aniki-Bóbó em 1942), e tem vindo a ser o caso do Oliveira dos últimos anos, quando o ritmo das longas-metragens, que chegou a ser de uma por ano, abrandou por variadas razões.
Em Oliveira, que uma vez disse que não sabia se um dia ia “deixar de fazer filmes porque morreu ou [ia] morrer porque deixou de fazer filmes”, o acto de filmar, mais do que prova de vitalidade, é a sua expressão. O Velho do Restelo, apresentado este ano, feito aos 105 anos, demonstra-o bem. É uma reunião, ao pé de casa, de algumas figuras caras ao universo de Oliveira, presenças ou inspirações recorrentes em vários pontos da sua obra: Camões, Camilo, Teixeira de Pascoaes, o Dom Quixote. Personagens mas também actores: Luís Miguel Cintra, Mário Barroso, Diogo Dória, Ricardo Trepa. Encontram-se todos, personagens e actores, num singularíssimo efeito de confusão “verista” (a maquilhagem e o guarda-roupa contra o cenário indisfarçadamente contemporâneo), num banco de jardim, algures no Porto, por certo não longe da casa onde habita Oliveira.

Sem comentários: