segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
O Natal dispensável
Não
sabem ao que vão, transportam o que compram com o peso do vácuo, destilam
litros de ansiedade. Há quem, na posição de adiantário, compre antes para não
pensar depois, mas, a maioria retardatária deixa para o limite do calendário
oficial o encargo do que se vai comprar já na ausência do pensar.
O prazer
de dar cede lugar à estopada de ter que dar. A serenidade do pensamento da
escolha cede passo, a favor do turbilhão de uma escolha que já não o é. O
oferecer, como acto que vale por si só, esfuma-se na conta corrente que
confronta o que se dá com o que se recebe, medido mais em euros do que em
valores de vida e de relação.
Recebe-se
o que não se deseja ou o que se tem a mais, por troca com o que se dá embrulhado
num frete achado algures no bazar do inútil.
Dar só é
bom se for natural. Dar só vale a pena se a pessoa que recebe está antes da
prenda que se entrega. Dar só faz sentido se o que se oferece é uma ponte entre
pessoas. Uma expressão de um sólido sentimento de união, estima ou
consideração.
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