sexta-feira, 3 de julho de 2015
Ivo Ferreira filma as cartas de amor do alferes Lobo Antunes
O homem
entrou em casa, de madrugada, avançou para o quarto, como que guiado pela voz
da mulher grávida que lia à sua barriga uma carta. A futura mãe tinha em mãos
as páginas de uma das missivas de amor que integram um livro: aquele que
compila as cartas escritas por um alferes médico de 28 anos, destacado logo
após a conclusão do curso de Medicina para uma comissão de serviço em Angola
(1971-1973), à mulher grávida que deixara em Lisboa.
Esses dois homens existem, o mise-en-abyme não é pura
ficção. São Ivo Ferreira, realizador, e António Lobo Antunes, escritor. O
primeiro, que na tal noite entrou em casa e ouviu a mulher a ler ao bebé por
nascer páginas deD’este viver aqui neste papel descripto: Cartas da Guerra,
volta – isto é, se pensarmos numa longa-metragem anterior, Águas Mil (2009)
– a deixar a sua vida ser interceptada pelas biografias dos outros como quem
tacteia fantasmas, segredos da História recente de Portugal, seguindo o fluxo
das histórias contadas de pais para filhos e destes para os seus filhos.
Etiquetas:
Cinema Português
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