terça-feira, 14 de julho de 2015

A montagem da literatura

A Relógio D’Água está a reeditar José Cardoso Pires. Até ao momento, saíram quatro livros: O Anjo Ancorado, O Delfim, Balada da Praia dos Cães e De Profundis Valsa Lenta. Entre os prefaciadores estão Mário de Carvalho, Gonçalo M. Tavares e António Lobo Antunes. “Nada neste mundo deixa de ser influenciado, hoje, pelo cinema. Nada”, afirmou José Cardoso Pires numa entrevista em que havia mesmo de dizer: “Não há literatura nenhuma que não seja uma montagem”.

Ao lermos os seus livros, não podemos deixar de constatar a influência que, além da literatura norte-americana, o cinema teve na sua escrita. Um estudioso da sua obra como Alexandre Pinheiro Torres utilizaria mesmo a seguinte formulação: “Cardoso Pires coloca a sua câmara cinematográfica, volteando numa área determinada”, que exprime de maneira marcante a acção da escrita, rigorosa e impecável, de Cardoso Pires. Que isso não faça, no entanto, pensar em qualquer descritivismo que pudesse congelar a prosa num estatismo decorativo. Pelo contrário, o plástico sobrepõe-se ao descritivo, parafraseando outro analista (Liberto Cruz). 


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