"A actividade do cinema é uma
actividade artística, a última das artes, a Sétima Arte. E José Régio,
por exemplo, dizia que o cinema era uma síntese de todas as artes. (...) Mas o
cinema, como todas as artes, está ligado à vida. O que se exprime, ou o
que as artes exprimem, de um modo ou outro, numa forma abstracta ou concreta, é
a vida"
Mais do que uma entrevista
com o realizador de cinema consagrado internacionalmente, com 80 anos de
carreira, esta é uma entrevista com um homem que, tendo nascido no tempo da
monarquia, chegou ao centenário da República com uma frescura de espírito
notável, o que lhe permite manusear a cultura e o mundo adquiridos com uma
inteligência ímpar e uma educação a condizer. Aos 102 anos, com muitos
projectos ainda por realizar, Manoel de Oliveira afirma que não tem "medo
da morte, só do sofrimento", e lança um repto ao Ministério da Cultura:
apostar na internacionalização do cinema português, que tem espaço no mercado
global, e, garante, pode trazer receitas importantes para o País.
Como se sente, de
saúde e de projectos?
A saúde na inteligência
está boa. A saúde no corpo é que vai um pouco pior... A memória falha-me,
sobretudo os nomes. Mas nas coisas relativas a cinema está tudo em ordem, que é
o que me interessa para poder continuar a trabalhar, porque o trabalho é
fundamental e a natureza já deu ao homem razões para trabalhar. E as razões são
uma só: a fome. A fome é que obriga o homem a trabalhar. Se não fosse a fome, o
homem não trabalhava.
Diário de Notícias.
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