segunda-feira, 18 de janeiro de 2016
Ainda é correcto falar de Descobrimentos?
Novo Dicionário
da Expansão Portuguesa foi lançado esta semana pelo Círculo
dos Leitores. Dirigido pelo historiador Francisco Contente Domingues, não faz
do politicamente correcto uma prioridade.
Há dois "Descobrimentos" no artigo assinado por
Francisco Contente Domingues no novo Dicionário da Expansão Portuguesa
(1415-1600), a obra editada pelo Círculo dos Leitores e lançada esta
quarta-feira no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Depois da leitura da
entrada dividida em dois pontos, quase podemos dizer que há os bons e os maus
Descobrimentos. O historiador optou por analisar o termo no singular,
“descobrimento”, para nos obrigar a olhar para o acto em si, porque a “tónica
devida” é precisamente a do seu carácter relativo.
“O ‘descobrimento’ faz sentido em função do património geográfico da
realidade cultural e civilizacional de onde emana o ‘descobridor’.” O próprio
conceito é “civilizacionalmente autocentrado” — escreve Contente Domigues, que
dirige o dicionário — e começou a ser posto em causa sistematicamente depois do
fim da Segunda Guerra Mundial.
Mas, sim, podemos dizer que os nativos norte-americanos foram
descobertos, contrariando os mentores das anti-comemorações das viagens de
Pedro Álvares Cabral ou Cristóvão Colombo, que criticam a bondade das
iniciativas ibéricas e argumentam que a América já tinha populações que lá
estavam há mais de dez mil anos. “Descobertos, sim: os Descobrimentos deram
início a um processo de conhecimento global — de mundialização — que não teria
retrocesso e se iria pelo contrário aprofundando com o correr dos séculos.”
Devemos ou não falar de Descobrimentos portugueses? — é um das primeira
perguntas que fazemos ao historiador Francisco Contente
Domingues, especialista em história marítima, durante a entrevista no
seu gabinete na Faculdade de Letras de Lisboa. “Absolutamente que sim, deve-se
falar de Descobrimentos.”
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