quarta-feira, 20 de abril de 2016

O português como língua de Camões é um mito


Em 735 adjectivos usados por Luís de Camões n’Os Lusíadas apenas um é uma criação nova do poeta, uma estreia na história da língua portuguesa. É a palavra “insofrido”, que quer dizer impaciente.
Esta contabilidade foi feita pelo linguista Fernando Venâncio, que nesta quarta-feira vai apresentar alguns resultados da sua investigação dedicada àquela que será a primeira história do léxico português numa aula do curso de Estudos Camonianos da Universidade Nova de Lisboa, às 18h. “A primeira descoberta é que Camões inovou muito pouco”, explica numa entrevista feita por telefone e e-mail a partir de Amesterdão, onde é investigador na universidade. 
“O uso que Camões faz do léxico exclusivo português já conhecido é extremamente moderado e, mais do que tudo, as exclusividades portuguesas introduzidas pela obra dele foram residuais. Dir-se-ia que Camões não acreditou numa língua portuguesa de perfil autónomo.” 
Sem ser nos Lusíadas, Fernando Venâncio encontrou apenas outro adjectivo novo de origem autóctone na lírica camoniana, desta vez “famulento”, que significa “faminto”.
Já as criações castelhanas estreadas naquele poema épico, publicado em 1572, são cinco (e estamos a contar sempre só adjectivos, palavras normalmente utilizadas para testar a inovação numa língua): alvoroçado, disfarçado, enamorado, rebelde e sotoposto. 

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