sexta-feira, 1 de abril de 2016

A acção do poema

Mais um livro póstumo, onde a voz mais elevada da poesia de Herberto Helder se pode apreender nalguns poemas, os suficientes para justificar esta edição.

Depois de Poemas Canhotos, eis o segundo livro póstumo de Herberto Helder. Chama-se Letra Aberta e reúne trinta e três poemas inéditos, escolhidos por Olga Lima. A inauguração do espólio do poeta já sem a sua tutela (o livro anterior tinha sido deixado pronto para publicação) foi mais rápida do que era previsível, mas é gratificante: há neste livro um punhado de poemas que ascendem aos cimos da melhor obra herbertiana. E na comparação com o livro anterior, este tem muito a ganhar. Na recepção crítica da poesia de Herberto Helder, esta ideia de que nem tudo se equivale e de que também há momentos fracos é recente, foi suscitada pelos últimos livros, e é a resposta que obteve a um novo desafio (implicando não apenas decisões editoriais, mas também representações e imagens públicas) que o próprio poeta decidiu fazer, por insondáveis determinações, que revogaram severas determinações que se tinham colado à sua imagem como uma segunda natureza. Ecos deste embate, temo-los ainda nalguns poemas deste livro, aqueles que provavelmente serão por estes dias mais citados, mas que estão longe de ser o que de melhor nele podemos ler.


Sem comentários: