quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O elogio do silêncio no festival das palavras

Após ouvir, na abertura do 17.º Correntes d'Escritas, a densa intervenção de José Tolentino Mendonça sobre as patologias do nosso tempo, o público pôde desopilar com uma espécie de Governo Sombra.
O primeiro dia do festival Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim, abriu esta quarta-feira com uma inesperada apologia do silêncio, assumida em plena feira das palavras pelo poeta e sacerdote José Tolentino Mendonça, e terminou com uma divertida sessão protagonizada pelo elenco do programaGoverno Sombra, na qual João Miguel Tavares trocou de lugar com Carlos Vaz Marques e cumpriu com galhardia o papel de moderador.
Entre uma e outra sessão, uma mesa-redonda discutiu a literatura e a catarse. O escritor brasileiro António Torres contou como a escrita do seu romanceEssa Terra (1976), lançado em edição portuguesa (da Teodolito) no Correntes d’Escritas, o levou ao divã do psicanalista — “o protagonista era um suicida, e eu estava escrevendo na primeira pessoa e comecei a sentir-me incomodado” —, e a romancista Hélia Correia retomou o tópico da psicanálise, mas para se indignar com a abusiva utilização do mito edipiano e do texto de Sófocles na designação do complexo proposto por Freud. O Édipo grego, assegura a autora, nunca quis matar o pai, e muito menos o fez por qualquer desejo inconsciente de desposar a mãe.

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