domingo, 9 de agosto de 2015
Morreu Ana Hatherly, audaz invenção de si mesma
A
poeta, artista plástica e professora jubilada tinha 86 anos. Qualquer categoria
soa diminuta para aquela que, segundo Jorge Molder, amigo de sempre, "se
inventou a si própria"
Chamava-se
Ana. Fez uma viagem ao fundo da escrita, do traço ao alfabeto que (re)inventou,
e ao fundo da mão, do corpo que a comanda à alma que ela traduz. Ao contrário
de Penélope, como escreveu em NEO-PENÉLOPE (2008), "não espera por nenhum
Ulisses". A viagem que começou no Porto em 1929 acabou ontem, 86 anos
contados, num hospital de Lisboa.
"De repente eu
vi uma fada a aparecer, que era a Ana Hatherly. Era uma senhora muito branca,
com um cabelo louro apanhado, com um vestido branco, e não era como as nossas
mães." Maria Filomena Molder, ensaísta e professora de Filosofia jubilada,
estava então na terceira classe do colégio e era colega da filha da poeta,
artista plástica e professora catedrática. Foi a primeira vez que a viu. Não
poderia saber então que Jorge Molder, seu futuro marido e fotógrafo, já menino
andara ao colo de Hatherly e com ela manteria uma amizade que nunca acabou.
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