As ossadas, em que se incluem doze esqueletos completos, pertencem a homens e mulheres condenados por heresia pelo Santo Ofício e que morreram na prisão entre 1568 e 1634, o que permite precisar o crime: protestantismo, islamismo, bigamia e homossexualidade e, sobretudo, judaísmo.
«Pesquisei todos os processos da Inquisição para este período. 90 por cento dos julgados foram condenados por judaísmo. No total, encontrámos 89 processos de pessoas que faleceram na prisão», disse o antropólogo.
O achado de Bruno Magalhães, Teresa Fernandes e Ana Santos, publicado na edição de setembro da Journal of Anthropological Archaeology e que já atraiu a atenção da revista Forbes pretende recuperar a memória das vítimas da Inquisição de Évora, a mais ativa do país e, depois de Coimbra, a segunda mais mortífera.
Se, por um lado, os ossos não revelaram marcas de tortura física, os antropólogos identificaram um castigo que, à época, era eterno.
«Um enterro foi negado aos mortos. Foram descartados para a lixeira [...] num castigo para lhes destruir a alma», pode ler-se nas conclusões do estudo.
«Não encontrámos vestígios de sevícias nos ossos. O que não quer dizer que estas pessoas não tenham sido torturadas», ressalvou Bruno Magalhães, explicando o trabalho de arqueologia levado a cabo pela Crivarque.
Fundada em 1536, a Inquisição portuguesa queimou vivas 1175 pessoas em 689 autos-de-fé, uma mortandade que não devastou apenas a comunidade judaica, mas que também afugentou a inteligência e empobreceu a nação.
Com pouco mais de 10% da lixeira escavada, os terrenos da antiga prisão prometem desenterrar um capítulo quase desconhecido da história da Inquisição em Portugal. In A Bola.
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