As Mil e uma
Noites tem a
duração de uma noite: seis horas e meia (na actual montagem) distribuídas por
três volumes que formam um filme. Um fresco contra o entorpecimento, estreia em
Outubro
Na sua
história do cinema “com um S”, Godard percorre “todas as histórias que
existirão, que existiriam, que existiram” para interrogar “o poder da
Babilónia” face à “actualidade da história” e à “história da actualidade”. Aí
se sustenta que o cinema terá sido testemunha impotente do seu tempo, enquanto
a fábrica-cinema produzia um dilúvio de histórias, senão mesmo imagens do
horror, porque era necessário sonhar: eis a paradoxal “regra do jogo”.
A história
que Godard nos conta é a de um cinema que sucumbe ao mesmo tempo que cumpre o
seu dever de memória. Contrariando as expectativas, o cinema não morreu e, sem
esquecer-se do passado, combate o esquecimento do presente.
Este poderia ser o ponto de partida das Mil e Uma Noites,
o novo filme de Miguel Gomes que estreará em Portugal em Outubro. Usando como
pretexto a mecânica narrativa dos contos orientais, Gomes reuniu uma equipa de
jornalistas encarregada de seguir a actualidade da imprensa e seleccionar
acontecimentos que seriam investigados no terreno e reescritos pelos
argumentistas. Com toda a equipa técnica, artística e de produção sempre de
piquete, a rodagem podia, então, começar, sabendo-se apenas que a sequência do
guião dependia do que estava para acontecer. Miguel Gomes assumiu, portanto, o
leme de um filme à deriva entre as vagas da realidade e a tempestade dos média,
uma e outra afrontadas com as armas da ficção.
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