O nobel Tomas Tranströmer,
mestre da metáfora e da contenção, morreu aos 83 anos, depois de 25 em
silêncio.
Pensar
através de imagens para a poesia, dizia Tomas Tranströmer em muitas
entrevistas, um pensamento sempre sublinhado no modo como exerceu o eu discurso
poético. Era marcado por uma rara capacidade de iluminar o real nos seus
mais pequenos detalhes, através da linguagem poética e uma imaginação
prodigiosa onde conjugava o humano mais íntimo com a natureza mais selvagem.
Luís Costa
e Vasco Graça Moura fizeram algumas traduções. Entre elas Alfama, poema incluído na
colectânea 21 Poetas Suecos (Vega, 1987).
Aqui
deixamos esse poema:
Lisboa
No bairro de Alfama os
eléctricos amarelos cantavam nas
Subidas.
Havia duas prisões. Uma delas era para os gatunos.
Eles acenavam através das grades.
Eles gritavam. Eles queriam ser fotografados!
"Mas aqui", dizia o revisor e ria baixinho como um afectado
"aqui sentam-se os políticos". Eu vi a fachada, a fachada, a fachada
e em cima, a uma janela, um homem,
com um binóculo à frente dos olhos, espreitando
para além do mar.
A roupa pendia no azul. Os muros estavam quentes.
As moscas liam cartas microscópicas.
Seis anos depois, peguntei a uma dama de Lisboa:
Isto é real, ou fui eu que sonhei ?
Tomas Tranströmer (Tradução por Luís Costa)
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