Morreu na
segunda-feira o grande mago da poesia portuguesa actual. Herberto Helder tinha
84 anos e publicara há pouco A Morte Sem Mestre, livro onde se mostrava
a morrer, mas ainda tocado por esse poder criador que o tornou único.
O poeta Herberto Helder
morreu esta segunda-feira na sua casa de Cascais, aos 84 anos, e apenas alguns
meses após o lançamento de A Morte Sem Mestre (2014), um ofício de
trevas, irado e irónico, e às vezes de uma crueza sem bálsamo: “e eu que me
esqueci de cultivar: família, inocência, delicadeza,/ vou morrer como um cão
deitado à fossa!”. Outras vezes sabendo que os seus misteriosos dons criadores
ainda não o tinham deixado de todo: “(…) a morte faz do teu corpo um nó que
bruxuleia e se apaga,/ e tu olhas para as coisas pequenas/ e para onde olhas é
essa parte alumiada toda”.
Como
Pedro Mexia refere na sua reacção à morte do poeta, não tardará a tornar-se
pacífico que Herberto Helder é o poeta central da segunda metade do século XX,
como Pessoa o foi da primeira. Mas é uma centralidade que é ao mesmo tempo uma
anomalia, porque a mágica e bárbara linguagem de Herberto, mesmo na sua versão
atenuada dos últimos livros, parece vir do fundo dos tempos e ter nascido por
engano nesta modernidade.
Não há na poesia portuguesa
pós-Pessoa nenhum poeta que tenha exercido um tal poder de atracção e gerado
tantos epígonos. E nenhum mais absolutamente impossível de imitar com
proveito.
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