quarta-feira, 25 de março de 2015

Morreu Herberto Helder, a voz mais fulgurante da poesia portuguesa



                   O poeta Herberto Helder morreu esta segunda-feira na sua casa de Cascais, aos 84 anos, e apenas alguns meses após o lançamento de A Morte Sem Mestre (2014), um ofício de trevas, irado e irónico, e às vezes de uma crueza sem bálsamo: “e eu que me esqueci de cultivar: família, inocência, delicadeza,/ vou morrer como um cão deitado à fossa!”. Outras vezes sabendo que os seus misteriosos dons criadores ainda não o tinham deixado de todo: “(…) a morte faz do teu corpo um nó que bruxuleia e se apaga,/ e tu olhas para as coisas pequenas/ e para onde olhas é essa parte alumiada toda”.
                    Como Pedro Mexia refere na sua reacção à morte do poeta, não tardará a tornar-se pacífico que Herberto Helder é o poeta central da segunda metade do século XX, como Pessoa o foi da primeira. Mas é uma centralidade que é ao mesmo tempo uma anomalia, porque a mágica e bárbara linguagem de Herberto, mesmo na sua versão atenuada dos últimos livros, parece vir do fundo dos tempos e ter nascido por engano nesta modernidade.
                     Não há na poesia portuguesa pós-Pessoa nenhum poeta que tenha exercido um tal poder de atracção e gerado tantos epígonos. E nenhum mais absolutamente impossível de imitar com proveito.

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