sexta-feira, 25 de abril de 2008

Mar Português


Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!


Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.


Fernando Pessoa



Este é provavelmente o poema mais universal de quem é talvez o mais universal dos nossos poetas. Foi por essa a razão pela qual o escolhemos para abrir esta secção e também porque os dois primeiros versos da segunda estrofe justificam todos os nossos esforços e nos animarão em todos os momentos de dificuldade ao longo da caminhada que hoje iniciamos.

O poema pertence ao livro Mensagem (1934), o único que Pessoa publicou em vida. Originalmente iria chamar-se Portugal, mas posteriormente o autor optou por Mensagem, que como se recordará parte da expressão latina MENS AGitat molEM, que se encontra na Eneida, de Virgilio, e significa “A mente move a matéria”.

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