O suplemento literário do jornal Ciudad CCS recordou no passado dia 6 de Outubro que se cumprem os 15 anos do outorgamento do Prémio Nobel de Literatura a José Saramago, que assim se converteu no primeiro autor de língua portuguesa a receber esse galardão e o segundo português – o primeiro foi o neurologista Egas Moniz – a ser agraciado com um Nobel.
terça-feira, 8 de outubro de 2013
Letras CCS debruca-se sobre Saramago…
A nota de Ciudad
CCS, que se estende ao longo de duas páginas, reproduz o memorável discurso
do escritor quando da aceitação do prémio, e começa com estas palavras (aqui em
português), que já se tornaram históricas:
“O homem
mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. Às
quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de
França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia
dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta
escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do
desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia. Azinhaga de seu nome, na
província do Ribatejo. Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses
avós, e eram analfabetos um e outro. No Inverno, quando o frio da noite
apertava ao ponto de a água dos cântaros gelar dentro da casa, iam buscar às
pocilgas os bácoros mais débeis e levavam-nos para a sua cama. Debaixo das mantas
grosseiras, o calor dos humanos livrava os animaizinhos do enregelamento e
salvava-os de uma morte certa.”
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José Saramago
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