sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Cesário Verde e os calceteiros…



A propósito da calçada portuguesa cuja construção promove o Centro Portugues, para o qual foi trazida pedra e “mestre calceteiro” de Lisboa, apresentamos um fragmento do poema Cristalizações, de Cesário Verde, que tão bem e com tanta sensibilidade se debruçou sobre a vida da capital...


Faz frio. Mas, depois duns dias de aguaceiros,
Vibra uma imensa claridade crua.
De cócoras, em linha, os calceteiros,
Com lentidão, terrosos e grosseiros,
Calçam de lado a lado a longa rua.

Como as elevações secaram do relento,
E o descoberto sol abafa e cria!
A frialdade exige o movimento;
E as poças de água, como em chão vidrento,
Reflectem a molhada casaria.

Em pé e perna, dando aos rins que a marcha agita,
Disseminadas, gritam as peixeiras;
Luzem, aquecem na manhã bonita,
Uns barracões de gente pobrezita
E uns quintalórios velhos com parreiras.


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