sexta-feira, 3 de agosto de 2012
Morreu Camões, o cão que inspirou Saramago
“Entra, chegaste à tua casa”: assim entrou Camões na vida de José Saramago.
No momento em que Manuel Maria Carrilho, ministro da Cultura de Portugal,
anunciava a José Saramago que lhe tinha sido concedido o maior galardão
literário da língua portuguesa, um cão assustou tanto uma vizinha que ela
gritou a pedir ajuda. Os que estávamos em casa saímos para a rua e vimos que o
animal feroz era um cachorro assustado com o susto da mulher. O animal entrou
pela porta aberta do jardim, mexendo sem jeito as pernas, um pouco desajeitado,
feliz por ninguém o maltratar. Quando Saramago apareceu a anunciar que tinha
recebido o Prémio Camões, soubemos, soubemo-lo nesse instante, que o cão que
tinha encontrado a sua casa não ia ter outro nome que o do grande poeta português.
E assim, pelo menos em Lanzarote, Camões foi mencionado centenas de vezes por
dia, foi vida e foi homenagem. E este cão doce e nobre, que nunca aprendeu a
comer devagar porque até chegar à Casa tinha tido que lutar contra a fome e o
abandono, com a sua gravata branca desenhada no pelo negro, que foi o modelo
para “O Achado” d' A Caverna, um cão que, como todos os cães que Saramago
inventa, é a melhor resposta animal à melhor consciência humana, morreu com
todos os seus anos e sempre amado.
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