quinta-feira, 8 de julho de 2010

É a cultura, estúpido!

As indústrias criativas são fundamentais para a economia. Mas elas não existem sem cultura e arte. O Estado quase não gasta neste sector, que vive no limiar da morte súbita. Vai cortar ainda mais.

É quase patético o que o Estado português gasta em cultura. Chega por isso a ser insultuoso que se insista em falar em subsidiodependência quando todo o dinheiro do Estado que nela é investido não daria para uma obra pública que se visse.

Poderá parecer normal a notícia de que os apoios às actividades culturais vão sofrer um corte de 10% graças à cativação geral de 20% do orçamento do Ministério da Cultura, aquele que de longe menos gasta aos contribuintes (e o pouco que recebe gasta consigo próprio) e que tem, em termos relativos, dos orçamentos mais baixos da Europa.

Para uma actividade que vive no limite da sobrevivência (e que já é largamente financiada pelos próprios criadores), 10% é o golpe de misericórdia. Sobretudo se tivermos em conta que, depois de dez anos de cortes sucessivos nos já magros apoios, esta é uma área onde a austeridade não começou agora.

Bem sei que o ambiente não está para defender a manutenção de apoios públicos. Se eu estivesse a escrever sobre agricultores provavelmente muitas almas se condoeriam. Sendo sobre produtores culturais e artistas, parte-se do princípio de que aquilo não é bem trabalho. Mas é. E, para quem não sabe, trata-se de uma das poucas áreas que, mesmo com apoios públicos ridículos, cresceu. Ao contrário de outras actividades económicas, cada tostão investido fez-se sentir em emprego, produção e exportação.

Expresso.pt

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