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terça-feira, 20 de dezembro de 2016
O que os portugueses comiam no Natal há 100 anos
Está a ver aquela posta alta e deliciosa de bacalhau
cozido com couves, cenouras, batatas e muito azeite por cima? No início do
século XX, isso era coisa que só existia no Norte do país. Do Porto para baixo,
a véspera de Natal era passada no mais rígido e rigoroso jejum. A partir do
início do Advento, as famílias faziam jejum de carne e, na véspera de Natal, no
Sul do país, era jejum total até à Missa do Galo.
A tradição é recordada por Maria de Lourdes Modesto
num artigo publicado no jornal Público, em 2009. A maior especialista em comida portuguesa
lembra-se que, na década de 30, depois da missa tinha finalmente direito a
comer qualquer coisa – e normalmente os pais serviam um doce para quebrar
o jejum. No dia 25, então, era servido um almoço completo e, no Alentejo,
onde vivia com a família, era sempre porco – peru nem vê-lo.
No Funchal, a tradição também era a do jejum na véspera e
a do porco no Dia de Natal. De madrugada, depois da Missa do Galo, era servida
uma canja e um cálice de vinho. Na verdade, a festa só começava
depois da missa.
Hoje em dia, a ceia da véspera de Natal tem tanta importância como o almoço
de dia 25. Mas, há 100 anos, era coisa que existia essencialmente no Norte do
País, acima do Porto. Aí, sim, havia uma tradição de jantar em família, com bacalhau
– cozido ou em pastéis –, polvo guisado, arroz de polvo ou outros pratos sem
carne. Na véspera de Natal, a família reunia-se à mesa para celebrar a
festa em conjunto. E Missa do
Galo não existia na região.
No Norte, ninguém rezava pelo Menino Jesus à meia-noite.
A essa hora toda a gente estava sentada à mesa, à volta de um polvo ou de um
bacalhau.
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